quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Seleção de Extensionistas: Observatório Jurídico de Debates Contemporâneos

Estão abertas as inscrições para a seleção de discentes extensionistas voluntários para o projeto Observatório Jurídico de Debates Contemporâneos, vinculado ao curso de Direito da UFCG/CCJS.

O projeto, coordenado pelo Prof. André Oliveira e Prof. Marcelo Lara, tem como objetivo conectar o Direito à realidade social através da curadoria e discussão de temas polêmicos da atualidade. As atividades serão realizadas integralmente na modalidade virtual.

Perfil Desejado Buscamos 3 (três) estudantes que combinem interesse acadêmico com habilidades técnicas. O candidato ideal deve possuir:

  • Curiosidade pelos grandes debates jurídicos e políticos do momento;

  • Facilidade com informática e redes sociais;

  • Disponibilidade para auxiliar a equipe na gestão técnica das lives e debates no YouTube (operação da plataforma StreamYard).

Requisitos para Inscrição

  • Estar devidamente matriculado no curso;
  • Ter cursado a disciplina Metodologia da Pesquisa em Direito I;

Atividades Previstas Os selecionados atuarão na curadoria de notícias (pesquisa), no suporte e moderação dos debates online (extensão) e na produção final de um artigo ou relatório temático.

Inscrições Interessados devem preencher o formulário eletrônico no link abaixo

Não perca a oportunidade de integrar uma equipe focada em compreender a complexidade social contemporânea através do Direito.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

O Que Não Vão te Contar sobre a COP 30: Salvar o Lucro, Não o Planeta.

Nos próximos dias, os olhos do mundo se voltarão para o Brasil. A 30ª Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, sediada pela primeira vez no Brasil, em Belém, no "coração da Amazônia", carrega o peso de um histórico complexo.

Em 1992, o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, a Rio-92, onde essa convenção, juntamente com a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção para o Combate à Desertificação foram negociadas. 20 anos depois, em 2012, também no Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

Essas três Conferências ocorrem em momentos muito distintos do cenário internacional. Em 1992, quando a CQMC foi negociada, junto com suas ‘convenções-irmãs’, havia um certo clima de euforia diante de um novo mundo, um novo arranjo global que emergia do fim da Guerra Fria, com a queda do Muro de Berlim e a derrocada da União Soviética. 

Surgia um mundo considerado como multipolar, com o triunfo dos valores da democracia liberal capitalista que se sagrava como modelo vitorioso e deveria ser levada a todos os povos da Terra. Ainda era um tempo de entusiasmo com a ciência, que entregava grandes resultados, e o discurso político subjacente às negociações era aquele que se acostumou a chamar de modernização ecológica, ou seja, a crença de que a ciência conseguiria debelar qualquer efeito negativo do progresso econômico em marcha.

Três décadas depois, a euforia se foi. O que resta é a urgência.

Quando acompanharmos as negociações da COP 30, ouviremos falar exaustivamente dos problemas "pontuais": a dificuldade de garantir o financiamento para medidas de adaptação, os entraves para uma transição energética justa e a eterna necessidade de metas de mitigação mais ambiciosas.

Esses debates são importantes, mas são também uma perigosa distração. Eles mascaram o problema real, aquele que raramente é nomeado nas plenárias oficiais: é impossível enfrentar de forma efetiva as mudanças climáticas sem deixar para trás o modo de produção social que é a sua causa raiz — o capitalismo.

A "Alta Cretinização" em Ação

O filósofo francês Edgar Morin, em sua crítica ao "pensamento simplificador", nos deu a ferramenta perfeita para diagnosticar nossa paralisia. Morin alertou para a "alta cretinização" produzida pela universidade e pelos especialistas: uma "inteligência cega" que fragmenta o saber, "destrói os conjuntos e as totalidades" e nos torna incapazes de "associar os elementos disjuntivos".

A COP é o palco principal dessa "alta cretinização".

Enviamos nossos melhores especialistas — economistas, engenheiros, diplomatas — cada um mestre em sua minúscula fatia da realidade. O engenheiro foca em um painel solar mais eficiente. O economista, em um novo mecanismo de crédito de carbono. O político, na negociação da próxima vírgula do acordo. Cada um otimiza sua parte, mas ninguém ousa questionar o sistema. O alcance das pesquisas sobre o tema é limitada, parcial e coalha enquanto não romper com o paradigma vigente. Como Morin diagnosticou, eles são incapazes de "refletir" sobre o todo. Não conseguimos ver que a crise climática não é um problema dentro do sistema; ela é um resultado do sistema.

O Verdadeiro Objetivo: Salvar o Lucro

Sejamos honestos: a tentativa empreendida nestas pomposas reuniões não é, e nunca foi salvar o planeta ou garantir o futuro das próximas gerações. A tentativa é salvar o capitalismo do colapso que se avizinha.

O que importa é salvar o lucro. A crise climática é tratada não como um limite, mas como uma nova fronteira de acumulação. A "transição energética" torna-se um espetáculo de novas oportunidades de negócio, novos produtos e novas chances de lucro, sem jamais repensar o fetiche do crescimento infinito.

Costumo dizer que o fascínio atual do carro elétrico é a mais perfeita imagem desse cenário. Ele é vendido como a grande inovação verde porque elimina o combustível fóssil do consumo individual. No entanto, ele perpetua intacto o modelo individualista do "meu carro", a lógica da cidade pensada para o automóvel e a extração massiva de recursos (como o lítio) para produzi-lo. Ele é a "solução" perfeita do pensamento simplificador: resolve um sintoma (emissões do escapamento) enquanto agrava a doença (o individualismo, o consumismo e a insustentabilidade do nosso modo de vida).

Uma solução complexa, sistêmica, ousaria pensar em transporte público radicalmente eficiente, acessível e universal, de modo que o carro simplesmente não fosse mais uma necessidade, mas isso está fora de cogitação ou tem um espaço muito marginal nas discussões.

O Desafio da COP 30

Enquanto a universidade e os especialistas nos entregam essa "alta cretinização" (soluções técnicas que não mudam nada), a mídia nos entrega a "baixa cretinização": um espetáculo de desastres fatalista ou uma disputa ideológica rasa. 

O desafio da COP 30, no coração da Amazônia, não é apenas assinar acordos mais ambiciosos. O verdadeiro desafio é romper com a "inteligência cega". É parar de tentar salvar o sistema que nos adoeceu e, finalmente, ousar "religar o que o pensamento disjuntivo separou": a economia da biosfera, o consumo da consequência, e a nossa sociedade da ideia insustentável de que podemos crescer para sempre.

Como isso será possível? Não sei, mas não posso acreditar que nossa imaginação e criatividade estejam de tal modo bloqueadas que não possamos conceber coletivamente novos modos de produção social, reconciliados com a base material de nossas vidas: o Planeta Terra.

O Mito da Democracia Brasileira e a Gestão Civil do Autoritarismo nosso-de-cada-dia

A crença comum, repetida à exaustão em salas de aula e palanques, é a de que vivemos em uma democracia plena desde 1988. Votamos regularment...